Descrição
Uma introdução à história do cinema: dos precursores aos modernos
Diogo Rossi Ambiel Facini
Nesse curso, pretendo proporcionar uma visão bastante abrangente da história do cinema, desde os seus precursores até as produções dos anos 1980.
A ideia é apresentar um curso mais formativo, mais geral, que ofereça aos participantes a condição de desenvolver uma compreensão ampla da história do cinema, observando alguns de seus desenvolvimentos mais importantes em variados momentos e locais.
Procurarei fazer um passeio pelos principais criadores e movimentos ligados ao cinema, observando as mudanças e os desdobramentos ao longo do tempo, inclusive procurando relacionar autores e obras.
Pelo fato de esse ser um curso mais abrangente, ele não é voltado a olhares aprofundados e detidos de momentos do cinema; ao contrário, é direcionado a essa compreensão mais aberta da história.
Ainda assim, com essa compreensão mais aberta, buscarei, na medida do possível, abarcar criadores e produções não vinculados aos eixos dominantes. Desse modo, são abordados alguns locais distantes de Hollywood e algumas importantes diretoras mulheres, por exemplo.
Se possível, dependendo das condições, pretendo apresentar algumas imagens e trechos de filmes, a serem exibidos para os participantes do curso, de modo a contribuir para uma maior compreensão dos assuntos discutidos.
A seguir, apresento o conteúdo resumido das aulas (pretendo fazer o curso em três partes).
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Aula 1: O surgimento do cinema e o período silencioso/mudo (de 1895 até 1927)
Nessa primeira aula, observaremos as primeiras experiências de imagem em movimento e conheceremos os pioneiros do cinema, principalmente os irmãos Lumière e Georges Méliès. Veremos como o cinema foi passando de uma iniciativa amadora para a formação de uma grande indústria, inicialmente na França e depois nos Estados Unidos. Observaremos como o cinema narrativo mais convencional foi se definindo nesse último país, principalmente com a obra de D. W. Griffith, e conquistou o mundo com a comédia de Charles Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd. Além disso, conheceremos algumas experiências mais divergentes quanto aos padrões dominantes de produção. Destacarei dois criadores que divergiam da maioria masculina e branca: Alice Guy Blaché (mulher) e Oscar Michaux (homem negro). Além disso, veremos um pouco como estava o cinema brasileiro na época, ainda incipiente, mas já produzindo uma obra importante (Limite) e conheceremos as vanguardas cinematográficas europeias: impressionismo, construtivismo, surrealismo e expressionismo. Essas vanguardas produziram um cinema mais experimental e apontaram para novas possibilidades artísticas. Por fim, acompanharemos a passagem do cinema mudo/silencioso para o falado/sonoro.
Temas a serem abordados:
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Precursores do cinema.
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Os irmãos Lumière: foco na tecnologia, no cinema documental e um início de indústria (ainda bem incipiente).
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George Méilès: ficção e fantasia.
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A companhia francesa Pathé: primeira grande indústria cinematográfica.
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O cinema pós-Segunda Guerra: domínio passa da França para os Estados Unidos.
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D. W. Griffith: o estabelecimento dos padrões do cinema clássico e o racismo em O nascimento de uma nação.
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Oscar Micheaux: o pioneiro do cinema negro.
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Uma mulher na linha de frente: Alice Guy Blaché.
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A Comédia Pastelão (Slapstick) e os três grandes: Charles Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd.
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Vanguardas 1: o cinema impressionista francês.
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Vanguardas 2: o construtivismo e o cinema de montagem russo.
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Vanguardas 3: o surrealismo de Luis Buñuel.
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Vanguarda 4: o expressionismo alemão.
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Brasil: início do cinema e o filme Limite, de Mario Peixoto.
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A passagem para o cinema sonoro.
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Aula 2: O cinema clássico americano e algumas movimentações importantes no mundo (de 1927 até 1959)
Nessa aula, abordarei a chegada do cinema sonoro, a dominação do cinema clássico americano – com o seu sistema de estúdios – e o estabelecimento dos principais gêneros: a comédia, o noir, o musical, o faroeste, o melodrama, o terror. Mesmo dentro dessa estrutura mais rígida, duas cineastas mulheres conseguiram se sobressair: Ida Lupino e Dorothy Arzner. No mundo, já há uma produção criativa por parte de mais países. Na França, destacam-se Jean Renoir, Jacques Tati e Robert Bresson. Na Itália, há o movimento fundamental do Neorrealismo, que apresenta uma visão mais politizada e acrescenta novos temas e novas formas de abordá-los, com diretores como Roberto Rossellini, Vittorio de Sica, Federico Fellini, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni. No Japão, três diretores atraem a atenção do mundo: Akira Kurosawa, Kenji Mizogushi e Yasujiro Ozu. Na Índia, destaca- se Satyajit Ray. Na Suécia, temos o cinema filosófico de Ingmar Bergman. Nos Estados Unidos, Alfred Hitchcock realiza uma obra bastante particular e é definido como um dos primeiros grandes “autores” do cinema, mesmo produzindo no sistema de estúdios americano. No Brasil, enquanto isso, a companhia Atlântida consegue estabelecer uma indústria nacional, principalmente com as suas chanchadas.
Temas a serem abordados:
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Estados Unidos: o musical, o noir, o faroeste, o melodrama, o terror.
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Os irmãos Marx: união entre comédia visual/física (do cinema mudo/silencioso) e humor verbal (do cinema sonoro/falado).
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A chegada da cor no cinema: o exemplo de O Mágico de Oz.
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Dorothy Arzner e Ida Lupino: duas diretoras inseridas no cinema clássico estadunidense.
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França: o realismo de Jean Renoir.
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França: a comédia sofisticada de Jacques Tati.
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França: o cinema bastante particular de Robert Bresson.
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Itália: o terremoto do Neorrealismo (Roberto Rossellini, Vittorio de Sica, Federico Fellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni).
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Japão: diretores clássicos que atraem atenção internacional: Akira Kurosawa, Kenji Mizogushi, Yasujiro Ozu.
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Índia: o cinema realista e crítico de Satyajit Ray.
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Um “autor” no cinema americano: Alfred Hitchcock.
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Suécia: o cinema existencialista e filosófico de Ingmar Bergman.
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A introdução de novos formatos de tela e novas experiências, após a chegada da televisão: o widescreen e o 3D.
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O cinema industrial no Brasil (o estúdio Atlântida e as chanchadas).
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Aula 3: O cinema moderno (de 1959 até anos 1980)
Nessa última aula, conheceremos o chamado cinema moderno, que provocou uma verdadeira revolução na sétima arte, propondo novas formas e novos temas. Destaca-se inicialmente o contexto francês, com a produção ensaística do crítico André Bazin e dos autores da revista Cahiers du Cinéma. Esses trabalhos influenciaram o primeiro grande movimento do cinema moderno, a Nouvelle Vague francesa, representada principalmente por Jean- Luc Godard, François Truffaut, Claude Chabrol, Alain Resnais, Jacques Demy, entre outros. Atuando nesse movimento, mas bastante independente, foi fundamental a diretora belga Agnès Varda, criadora de um cinema original, com um estilo ensaístico. Mesmo nos Estados Unidos, o cinema local, influenciado pela Nouvelle Vague francesa, foi de bastante contestação de modelos e de valores, com a chamada Nova Hollywood a partir da década de
1960 e com o cinema Blaxploitation a partir dos anos 1970, esse último um grande veículo de afirmação da cultura negra. A Itália, nos anos 1970, continuou um dos principais núcleos criativos do cinema, com autores como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, e com um importante cinema político, com nomes como Francesco Rosi. No Brasil, ocorre um movimento fundamental, influenciado principalmente pelo Neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa: o Cinema Novo. Outras “novas ondas” surgem pelo mundo, em locais antigos e novos, como Alemanha, Japão e Tchecoslováquia. Na União Soviética, destaca-se o cinema profundamente reflexivo de Andrei Tarkóvski. No continente africano, apesar das dificuldades, há uma produção original e o surgimento de diretores importantes, como Ousmane Sembène. Por fim, no cinema estadunidense, destacam-se dois fenômenos opostos. Em primeiro lugar, após o declínio da Nova Hollywood, ocorre o surgimento do cinema blockbuster, com grandes orçamentos e uma produção mais voltada ao estímulo dos sentidos e menos à atividade intelectual. Em segundo lugar, surge a figura de Spike Lee, cineasta negro e que aborda de maneira crítica as questões raciais de seu país.
Temas a serem abordados:
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A importância do crítico André Bazin e da revista Cahiers du Cinéma.
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Os filmes introdutores da Nouvelle Vague francesa: Os incompreendidos
(1959), de François Truffaut, e O Acossado, de Jean-Luc Godard.
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Grandes nomes da Nouvelle Vague francesa: Jean-Luc Godard, François Truffaut, Claude Chabrol, Alain Resnais, Jacques Demy.
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Agnès Varda, entre a Nouvelle Vague e um caminho todo particular no cinema-ensaio.
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A Nova Hollywood, período de contestação de valores estabelecidos e também de experimentações estéticas (Francis Ford Copolla, Martin Scorsese, Dennis Hopper).
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O cinema Blaxploitation: afirmação e resistência da população negra estadunidense nos anos 1970.
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O cinema moderno italiano, filosófico, poético, experimental e crítico: Federico Fellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini.
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O cinema político italiano: Bernardo Bertolucci, Elio Petri, Francesco Rosi, Gillo Pontecorvo, Damiano Damiani.
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O Novo Cinema Alemão, tendo de lidar com a reconstrução pós-nazismo, com uma memória traumática e com a busca de uma nova linguagem e de novos temas: Werner Herzog, Wim Wenders, Rainer Werner Fassbinder, Volker Schlondorff, Margarethe Von Trotta e Helma Sanders-Brahms.
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O Cinema Novo brasileiro, “filho” da Nouvelle Vague francesa e do Neorrealismo italiano: Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
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A Nouvelle Vague japonesa (Nuberu Bagu), espaço de contestação e de revelação de hipocrisias: Nagisa Ōshima, Yoshishige Yoshida, Masahiro Shinoda e Shōhei Imamura.
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O cinema filosófico e espiritual de Andrei Tarkóvski.
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A Nouvelle Vague tcheca, lugar de críticas e de experimentações: Věra Chytilová e Miloš Forman.
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Na Espanha, Carlos Saura confronta o autoritarismo e o moralismo da ditadura de Franco.
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A diretora belga Chantal Akerman e um cinema de lentidão e de crítica feminista em Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975).
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O cinema africano, lugar de luta contra o colonialismo e de afirmação identitária: A negra de… (Ousmane Sembène) e Touki Bouki (Djibril Diop Mambéty).
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Crise no cinema moderno estadunidense e início da era dos blockbusters: Guerra nas Estrelas e O Exorcista.
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Spike Lee: as questões raciais no centro do cinema, em uma abordagem crítica.
Referências indicadas:
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Livro História do Cinema: dos Clássicos Mudos ao Cinema Moderno, de Mark Cousins. Editora Martins Fontes.
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Série documental A História do Cinema: uma Odisseia, de Mark Cousins.